A dúvida mais frequente que trazem os pais ao meu atendimento é a questão do formato dos pés e pernas das crianças. Uma prática antiga no uso de botinhas ortopédicas incutiu na sociedade uma preocupação extrema com a morfologia do pé da criança. Alguns esclarecimentos devem ser feitos sobre essas questões.
“Meu filho tem os pés e pernas tortas? Meu filho cai muito por conta dos pés? Minha filha não tem cava nos pés?”
A criança não é um adulto pronto! Os pés e pernas não são iguais de um adulto, existem algumas fases do desenvolvimento musculoesquelético que a criança deverá cumprir para alcançar o seu amadurecimento osteomioarticular. Durante o período intrauterino o feto fica todo encolhido, com os membros inferiores dobrados, com as perninhas cruzadas, então quando o bebê nasce terá as perninhas arqueadas em forma de “C”, o que chamamos de varo. Também nessa fase os pés não tem a cava, ou seja, é um pé plano flexível. Essa fase poderá durar até os dois anos de idade, sendo que esse arqueamento começará a diminuir a partir do primeiro ano de idade, momento em que a criança começa a andar. A partir dos dois anos de idade a angulação das pernas mudam e a criança muda de fase, o que era varo, passa a ser valgo. Este último, se refere ao formato das pernas que estão com os joelhos juntos e pés afastados. Essa fase do valgo pode ser dividida em dois tempos, no primeiro o valgo irá aumentar e poderá durar até os cinco anos de idade. No segundo tempo o valgo vai diminuir dos cinco aos oito anos de idade. Nessa idade a criança ganha uma maturidade osteomioarticular o que irá permitir que as pernas fiquem mais retinhas e que a cava do pé se torne mais visível e fixa. Vale lembrar que a angulação das pernas e pés de um adulto não é totalmente reta, o valgo leve é comum de ser observado, principalmente em mulheres.
Quando os pais devem se preocupar?
O desenvolvimento dos membros inferiores da criança só deve ser motivo de preocupação para os pais em casos de dor constante ou deformidades aparentes ou progressivas. Se for observada perda da curvatura dos pés, principalmente por volta dos oito anos de idade, a criança deve ser avaliada.
Dicas para um desenvolvimento saudável dos pés das crianças
Andar descalço, experimentando diferentes texturas (areia, grama, pedra, água...) são fundamentais para o estímulo dos mecanorreceptores plantares. O uso de palmilhas, terapias manuais e outros exercícios são indicados, principalmente, quando há queixa de dor.
Botas e palmilhas são recomendadas?
Antigamente era comum ver crianças utilizando botas especiais. Muitos familiares se baseiam no fato que eles usaram. Há indícios, inclusive, que as botas rígidas causem problemas devido à atrofia muscular, além do risco de trauma psicológico por serem quentes, mais pesada e de aparência diferente dos calçados convencionais. Ainda assim, ela pode ser utilizada em patologias específicas. Na maioria das ocasiões, as palmilhas são úteis para diminuir o desgaste do calçado, proporcionar maior conforto, realizar ajustes finos, podendo ser utilizada em calçados convencionais.
Exercícios ajudam no desenvolvimento do pé?
Atividades físicas (esportes) são importantes para as crianças, mas não há indícios que modificam a evolução dos pés em casos patológicos.
Qual o tipo de calçado recomendado para as crianças?
O calçado deve ser visto como uma proteção. Em crianças de baixa idade o calçado deve ser flexível, nas crianças maiores deve ser considerada a atividade da criança e a durabilidade desejada do calçado. Andar descalço deve ser estimulado.
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